Mulheres negras na engenharia: desafios e oportunidades

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A presença de mulheres em cursos de nível superior aumentou de forma gradativa nos últimos anos. Entretanto, os maiores percentuais de ingresso estão nas áreas de humanas e da saúde. De acordo com o último censo (2019) do Ministério da Educação (MEC), as mulheres correspondem apenas a 37,3% dos concluintes nos cursos de engenharia, produção e construção, embora representem mais de 50% da população brasileira. Quando fazemos um recorte analítico, considerando gênero e raça, a situação torna-se ainda mais preocupante. Neste contexto, surge a seguinte questão: por que a presença de mulheres negras em cursos de engenharia ainda é tão pequena?

A resposta é complexa, dadas as variáveis históricas e econômicas que produziram desigualdades sociais. Do ponto de vista histórico, por exemplo, embora o ensino de engenharia no Brasil exista desde 1792, a primeira mulher branca, Edwiges Maria, formou-se neste curso somente em 1917 pela UFRJ. E a graduação da primeira mulher negra, Enedina Marques, aconteceu apenas em 1945, na UFPR.

Do ponto de vista socioeconômico, observamos que esta distorção começa já na educação básica. Em 2016, as alunas negras (pretas e pardas) atingiram apenas 6% das 1000 maiores notas do ENEM. O fato se agrava ainda mais quando verificamos o desempenho em matemática: a nota dos meninos brancos é 81 pontos acima das meninas negras. Dados como estes exemplificam a perpetuação do sexismo e racismo na esfera da educação. Sistemas de opressão e de controle sobre mulheres e negros produzem a falta de incentivo que, somada à questão cultural “engenharia é para homem”, tende a refletir no desempenho do ENEM. E, consequentemente, em toda a formação de engenheiras negras. Todo este contexto reforça, por fim, a condição e o lugar da mulher negra em um cenário de vulnerabilidade social.

Fonte: exame.